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5 perguntas com Eduardo Lopes

  • Foto do escritor: estúdio greta
    estúdio greta
  • 2 de ago. de 2018
  • 8 min de leitura

Atualizado: 3 de ago. de 2018


Hoje iniciamos uma categoria de entrevistas do blog, em um formato que iremos fazer 5 perguntas para pessoas que admiramos e com trabalhos inspiradores. Muitas são pessoas que tiveram alguma participação especial na trajetória do estúdio greta, e hoje você confere a nossa conversa com o Eduardo Lopes, uma referência em fabricação digital que vale à pena ouvir e conhecer!


Eduardo Lopes

1. Nos conte um pouco sobre você. Qual foi a sua trajetória até o momento presente?


Eu sou arquiteto de formação, sou formado há 20 anos, trabalhei com arquitetura durante quase 15 anos com escritório. Eu sempre gostei de trabalhar com tecnologia, desde criança, sempre fui interessado em computadores e etc, tentei trazer isso para a arquitetura usando alguns softwares mais avançados ou pensando coisas do tipo. Há uns 6 anos eu estava um pouco insatisfeito porque na arquitetura você pensa uma coisa e outra é construída, tem uma distância muito grande entre o que você pensa e o que sai. Isso me deixava um pouco frustrado na verdade. Então eu comecei a pesquisar sobre máquinas de fabricação digital que fazem essa aproximação entre o que você pensa e projeta, e o que sai no final. Fui atrás de cortadoras a laser e outras máquinas e, através delas, descobri o conceito dos Fab Labs. Naquele momento, no fim de 2011, estava sendo criado aqui no Brasil o primeiro Fab Lab, na USP, o Fab Lab São Paulo. Eu me aproximei e conheci o professor que estava coordenando e até hoje coordena o Fab Lab São Paulo, que é o professor Paulo Fonseca (e que é o meu orientador do Doutorado). Eu ajudei a inaugurar aquele Fab Lab e me apaixonei pela história! Esses laboratórios são lugares onde, não só existem as máquinas, mas se cria uma comunidade de usuários e de pessoas que podem ter acesso a essas ferramentas de fabricação digital e com isso fazer quase qualquer coisa. É interessante porque o estúdio greta é um pouco isso né? Vocês viram o negócio acontecendo no Garagem, que é o Fab Lab que eu fundei em 2013, que foi o segundo Fab Lab do Brasil e o primeiro “independente”, fora de uma instituição de ensino ou pública. Mas enfim, é um pouco esse o exemplo né, pessoas que nunca tinham tido contato com essas tecnologias, viram a possibilidade de fazer uma coisa e vocês empreenderam o negócio a partir daí.


Então, voltando para a minha trajetória, eu abri o Garagem Fab Lab que por 2 anos e meio funcionou como uma empresa. A gente criou uma comunidade muito grande! Praticamente todo mundo que hoje, aqui no Brasil, especialmente em São Paulo, está tocando, gerindo ou trabalhando num Fab Lab passou em algum momento pelo Garagem ou pelo Fab Lab São Paulo. Então foi muito interessante trabalhar com a criação de uma comunidade, algo que eu nunca tinha feito. Nesse momento, em 2013 mesmo, eu fechei o escritório de arquitetura e passei a me dedicar só a isso. E o Garagem cresceu a um ponto de a gente ter que sair de lá e ir para um lugar maior. E nesse ponto também não fazia mais sentido ser só uma empresa minha, do Eduardo, porque tinha mais gente envolvida. Então, o Garagem passou a ser uma associação, a gente fez uma campanha no Catarse para fazer a mudança e foi uma experiência incrível, super legal e bem-sucedida. O Garagem virou uma associação e outras pessoas se envolveram com a sua fundação. E para que não fosse personificada na minha pessoa (“o Fab Lab do Edu”), outras pessoas foram convidadas a assumir a direção. Enfim, é o que acontece até hoje. Hoje eu tenho só uma ligação afetiva com o Garagem porque depois desse momento eu fui convidado a participar de um outro Fab Lab, no Rio, o Olabi, que é incrível, que tem alguns projetos mais conectados com o lado social de providenciar acesso a tecnologias; o Olabi tem muito claro esse viés. Durante dois anos, eu trabalhei com o Olabi e estamos aqui agora, estou terminando meu Doutorado e trabalhando como consultor em impressão 3D, montando makerspaces, fazendo cursos. Enfim, fazendo de tudo que envolve essa questão da fabricação digital, acesso e democratização da tecnologia.


Ah! Uma coisa importante de dizer é que, enquanto na primeira fase do Garagem, eu ajudei pessoalmente a Prefeitura de São Paulo (na época ainda na gestão do Fernando Haddad) que montou os 12 Fab Labs públicos, a maior rede de Fab Labs públicos do mundo. Eu, pessoalmente, ajudei a equipe da Secretaria que cuidou dos Fab Labs, a criar a estrutura, porque eles não conheciam nada, tinham só a vontade de ter esses laboratórios. Mas o Garagem era uma referência e eu, então, ajudei nisso e tenho muito carinho por essa rede. Até hoje funciona bem e é uma coisa que está rolando, que tem um super resultado. Esses Fab Labs na periferia têm muita gente engajada! Mais de 100mil pessoas passaram pelos laboratórios nesses últimos 2 anos!



2. Como o seu trabalho cria inovação?


“Inovação” é uma palavra super usada e que as pessoas falam sem saber muito o que é. Eu mesmo sou um deles porque eu não sou um especialista em inovação. Mas o que eu sempre procurei proporcionar com o meu trabalho foi a criação de um ecossistema onde novos negócios, novos projetos ou coisas novas possam acontecer, envolvendo tecnologias (ou não necessariamente), através do encontro de pessoas diferentes, saberes diferentes... Disso resulta muito inovação, mais do que você usar uma tecnologia A, B ou C, uma máquina A, B ou C. Eu acho que hoje em dia a inovação está muito ligada à colaboração, a processos de criação colaborativos. Até grandes empresas hoje têm trabalhado com essa mentalidade, mas é possível ver que várias startups nascem de ambientes assim colaborativos, que são empresas que carregam esse DNA mais inovador do que as grandes empresas; nascem de experiências assim, de encontros de pessoas de diferentes saberes. Então, acredito que basicamente o que o meu trabalho dentro dos Fab Labs propicia é criar esse ambiente onde a inovação é possível, através desse encontro de pessoas, através do encontro de pessoas com a tecnologia, através da união de tecnologias com saberes como as “tecnologias tradicionais”. Inclusive o Olabi faz isso muito bem, de juntar o tradicional com o digital. A gente não pode esquecer que o tradicional também é importante. No caso de vocês, por exemplo, seria como juntar a marcenaria tradicional e a marcenaria digital. Acho que esse tipo de noção, de também não ficar uma coisa que “fetichiza” a tecnologia e as máquinas, é importante.



3. Quais impactos positivos o seu trabalho gera para a sociedade?


O primeiro impacto do meu trabalho que eu tenho muito orgulho foi de ter participado ativamente da criação da rede municipal de Fab Labs em São Paulo, apesar de isso não ser uma coisa oficial porque eu não trabalhava na Prefeitura na época. Me orgulho, não só por ser a maior rede do mundo, mas também por ter um conceito de levar tecnologias e possibilidades para as periferias de uma cidade como São Paulo. Eu vi com os meus olhos as pessoas usando e se apropriando da estrutura, fazendo projetos, fazendo coisas que antes não teriam a oportunidade de fazer. Das coisas que fiz nos últimos tempos, esse é um dos impactos positivos que me toca. Uma outra coisa interessante aconteceu durante esse tempo em que trabalhei com makerspaces e com novas tecnologias, dentro da área da educação. Criou-se um ambiente muito propício à utilização dessas tecnologias para, de alguma maneira, ressignificar o aprendizado ou dar uma outra qualidade ao ensino infantil. Então eu estou muito envolvido com algumas escolas no pensar e no criar uma forma de utilizar esses espaços (também sem “fetichizar” as máquinas e a tecnologia), mas de uma maneira que as crianças possam se apropriar disso e ter muito mais possibilidades e potencialidades de desenvolver novos projetos, de desenvolver suas próprias ideias e de ter mais autonomia. E é super importante pensar nisso nos dias de hoje porque o ensino tradicional é uma coisa que já está há muitos anos defasado. Acho bacana ter participado e ainda participar desse impacto na educação de crianças.



4. Tem algum tema que você tem vontade de explorar futuramente?


Embora eu tenha fechado o escritório de arquitetura e não tenha mais trabalhado com projeto nos últimos 6 anos, eu entrei na pós-graduação da USP e comecei a fazer um doutorado que é voltado ao design, à arquitetura e ao uso de novas tecnologias para construção de elementos pré-fabricados de concreto. Ou seja, é uma coisa bem relacionada à arquitetura industrializada, pré-fabricação, novas tecnologias na construção civil, coisas assim. E, em algum momento, esse trabalho apontou para um possível uso dessas tecnologias na construção de habitações populares, de forma que a população organizada em comunidades, possa se apropriar dessas tecnologias de fabricação digital, inclusive utilizando os Fab Labs públicos, por exemplo, na cidade de São Paulo, pra construir as suas próprias casas. E não de madeira, mas de concreto, utilizando fôrmas feitas numa CNC, por exemplo. Um pouco do meu trabalho, um dos capítulos da história, é esse. Então eu acho que uma das coisas que eu gostaria de explorar no futuro, em breve, depois que eu acabar esse Doutorado, seria tentar viabilizar essa ideia de fazer com que as pessoas possam de alguma maneira melhorar o nível de autoconstrução das suas casas. A autoconstrução é uma coisa que já existe, as pessoas nas comunidades e nas ocupações já constroem as próprias casas de concreto e alvenaria, com os recursos que têm. Mas o que acontece é que, como geralmente as pessoas não têm recursos para fazer a casa toda de uma vez, fazem primeiro a estrutura e fecham as alvenarias sem nenhum revestimento ou mesmo sem cobertura, com a laje exposta. Isso faz com que a casa em pouco tempo fique insalubre, cheia de infiltração, mofo, com um ambiente muito propício a desenvolvimento de doenças e coisas assim, além da insegurança da própria precariedade da construção em si. Então a minha ideia é desenvolver um sistema pré-fabricado, uma espécie de “Lego” de concreto para que as pessoas possam construir a sua casa de uma maneira mais econômica ou tão econômica quanto já fazem hoje, mas de forma mais segura e rápida, para que possam fazer a casa toda de uma vez e tenham a casa pronta. Me baseei um pouco nos projetos daquele grupo chileno, o Elemental, do Alejandro Aravena, mas usando fabricação digital e o que eu estou desenvolvendo no Doutorado. Essa é a minha vontade de trabalhar no futuro.



5. Como as pessoas podem se informar mais sobre o seu trabalho e outros temas relacionados?


Eu tenho um site onde eu posto algumas coisas e onde tem basicamente tudo o que eu já fiz relacionado aos Fab Labs, que é edulopes.co. O que eu tenho feito mais recentemente eu posto na minha página do Facebook (Eduardo Lopes) e no grupo do Olabi (Olabi Makerspace).

Sobre outros temas relacionados, tem alguns sites que eu gosto, mas aí num sentido mais amplo da história, que são os sites dessa comunidade aberta, de construção de conhecimento coletivo, de distribuição de conhecimento gratuito como o Instructables, que é sempre uma referência pra mim e para as coisas que eu faço.



Eduardo Lopes

Eduardo Lopes é arquiteto e empreendedor digital. Em 2013 fundou o Garagem Fab Lab, laboratório de fabricação digital pertencente a rede mundial iniciada pelo MIT e que foi o primeiro Fab Lab independente do Brasil. Já abriu e fechou algumas empresas por aí, mas acredita que está no caminho e não desiste assim tão fácil... :)

Gosta de colocar a mão na massa e nos últimos anos realizou diversos projetos pessoais e coletivos: fez pessoas (tem dois filhos), construiu veículos, móveis, impressoras 3D, máquinas e um biolaboratório completo! Deu uma força para o pessoal da Prefeitura de São Paulo na criação da rede municipal de laboratórios de fabricação digital – o Fab Lab Livre SP – e tem como principal missão democratizar geral o acesso às tecnologias de fabricação e à informação científica no país. Atualmente divide seu tempo entre uma parceria com o Olabi, um makerspace incrível no Rio de Janeiro, e o doutorado em fabricação digital robótica na FAU-USP, e espera sobreviver para dar aulas (uma paixão) daqui a uns anos.

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